Tarcilio de Souza Barros
Limiar, média metragem produzido na Armênia, é um filme que certamente não encontrará exibidor interessado a leva-lo ao público, ainda mais com apenas 65 minutos de duração. Mas é certo, também, que será tido como obra de arte.
Começa com uma cena invernal, onde a neve cobre planícies, colinas e montanhas da Armênia — que foi invadido em 1915 pelo exercito turco, que praticou o genocídio contra a indefesa população.
Neste cenário branco, sob o fundo musical da Ave Maria de Schubert, um homem vestido com um casacão preto, gorro e cachecol, perambula por cima das camadas de gelo. As passagens são lentas e fazem referência ao estilo do cineasta francês Abel Gance — no filme mudo Napoleão, rodado em 1928.
A produção vai em busca das raízes ancestrais do país numa retratação documental. Um caminho entre a matéria e o transcendental. O filme com o título Limiar, também poderia ser intitulado Limite. Estas palavras, na língua inglesa, significam ‘threshold’. O homem toca com as mãos ruínas históricas petrificadas, recordando a glória que outrora permeou seu país.
As personagens fadam-se sob um tédio impiedoso. Raros diálogos, música discreta, baseada no folclore armênio. Fotografia impecável — baseada na concepção do fotografo mexicano Gabriel Figueiroa, que sustenta a existência do meio ambiente onde esse homem simples e tolhido pelo inclemente frio entra numa palhoça para se abrir sendo acolhido por um jovem que o convida a comer uma fatia de carne acompanhado por nacos de pão. Uma refeição frugal, como frugal é a existência das pessoas nestas plagas onde impera o rigor do frio.
Na cena final, vemos o personagem sair da palhoça e continuar sua caminhada sob tropeções na neve, indo a uma infinita brancura, como esta fosse um mar que desaparecesse em seu interior.
O diretor deixa a mensagem de que todos estamos no limiar da existência. O Homem na caminhada da vida ao infinito nada tinha de materialidade, nada levou para o campo superior a não ser sua consciência.
O filme cumpre o papel de honrar a Mostra de Cinema — que trouxe aos cinéfilos uma obra prima cinematográfica.
Serviço:
Limiar (Threshold)
Direção: Rouzbehax Bar
Armênia – média metragem – P&B – 65 min. – 2020
Premiado em Festivais de Cinema Internacionais
Avaliação: Excelente