A importância da preservação
Uma das maiores florestas urbanas do mundo, próxima a uma metrópole, a Serra da Cantareira foi declarada parte da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da cidade de São Paulo pela UNESCO, em 1994.
Importante remanescente da Mata Atlântica e de grande relevância ecológica, o Parque Estadual da Cantareira possui uma área de 7.916,52 hectares, e é dividido em quatro núcleos, que abrangem os municípios de São Paulo, Guarulhos, Mairiporã e Caieiras: Núcleo Águas Claras, Cabuçu, Pedra Grande e Engordador.
Foi um jarro de barro usado pelos tropeiros comerciantes nos séculos XVI e XVII que serviu de inspiração para o nome dessa maravilha da natureza. Os cântaros, como eram chamados, serviam para armazenar água, e o suporte que servia de apoio era conhecido como cantareira. A grande quantidade de córregos e nascentes da região motivou os viajantes que passaram a chamar a região de Serra da Cantareira.
Dentro do bioma da Mata Atlântica, a região está caracterizada como floresta ombrófila densa. “É um ecossistema conhecido por ser amigo da chuva e da altitude”, explica Fábio Ferrão, biólogo, com MBA em Gestão e Tecnologias Ambientais pela Universidade de São Paulo (USP), presidente do Centro de Estudos Ornitológicos e responsável pelas Passagens Superiores de Fauna da Zona Norte da cidade de São Paulo. “A mata é de origem secundária, pois já teve outras culturas, como por exemplo o café, mas a necessidade de se armazenar a água em abundância ali encontrada, a floresta foi preservada com essa finalidade”, relata.
Fauna e flora
Uma imensa diversidade de animais vive na Cantareira. São cerca de 478 de invertebrados e 388 espécies de vertebrados. Macacos diversos, preguiças, veados-mateiros, caxinguelês, quatis, gambás (saruês) e a onça parda (suçuarana) são encontrados na região. As aves incluem o grande gavião pega-macaco, os tucanos e o pequeno beija-flor-rubi, entre muitos outros. Ali são vistas ainda diversas espécies de aranhas, cobras, lagartos teiú, sapo-cururu e a rã-manteiga. Há muitos animais ameaçados de extinção como o macaco bugio – dizimado pelo surto de febre amarela em 2017 –, o gato-do-mato, a jaguatirica, o macuco, o gavião-pomba, o jacuguaçu e o bacurau-tesoura-grande.
“Além dos condomínios e construções irregulares, o tráfico de animais causou grandes perdas para a região”, comenta Ferrão. “É o caso do sagui da serra escuro (aurita), por exemplo. Muitos adquiriram outros saguis, como o de tufo branco e o de tufo preto de forma ilegal, como um animal doméstico, exótico e esses bichinhos, que são terrivelmente bagunceiros, acabaram sendo soltos por aí. Detalhe, esses dois últimos são provenientes do Nordeste brasileiro, e se adaptaram na Serra, cruzando entre si e criando uma espécie híbrida, que acabou afastando o sagui característico da serra”, explica o biólogo. “Hoje é raríssimo avistar o aurita na região”, conclui.
A exuberante flora local, que conta com cabuçus, jequitibás, juçaras, cedros, xaxins, bromélias – típicas da floresta atlântica – sofre também pelas ações do homem. São aproximadamente 678 espécies muitas ameaçadas de extinção como é o caso da canela-sassafrás, a imbuia, a canela-preta, que são plantas típicas dessa região. “Tem o caso do carvalho da Cantareira que entrou em colapso e está desaparecendo. É possível encontrar alguns exemplares, mas eles geram sementes que não têm sucesso germinativo, elas são plantadas, crescem um pouco e morrem por serem fracas”, diz Ferrão. Para o biólogo, ocorre uma procriação entre árvores da mesma família e não entre núcleos familiares. “Não há volume suficiente e elas geram sementes germinadas entre exemplares da mesma família, enfraquecendo a espécie”.
A preservação da natureza é urgente, não só no Brasil, mas em todo o Planeta. O equilíbrio entre o meio ambiente e o desenvolvimento é uma questão premente. Ações importantes, muitas vezes simples e baratas, podem ajudar na proteção da Serra da Cantareira. Exemplo disso são as Passagens Superiores de Fauna da Zona Norte da Cidade de São Paulo, desenvolvidas por Fábio Ferrão, que evitam o grande número de atropelamentos de animais silvestres na região.
“São passarelas que ligam uma copa de árvore à outra copa, evitando que os animais atravessem as ruas e rodovias que cortam o Parque Estadual da Cantareira”, esclarece o biólogo. “São estruturas feitas de canos plásticos e cordas, com o objetivo de ligar esses fragmentos florestais separados por ruas, casas, entre outros obstáculos, possibilitando que a fauna (animais silvestres) de habitat arborícola possa trafegar de um lado para o outro, sem perigo de atropelamento e eletrocussão”. Hoje a Cantareira conta com sete passarelas instaladas em São Paulo e Mairiporã, e três em fase de produção para posterior implantação.
Ferrão acredita que a melhor forma de disseminar atitudes necessárias à preservação é a comunicação. “Minha sugestão é oferecer excesso de informação. Vamos instalar placas e mais placas sobre o tema nas rodovias de acesso à Serra da Cantareira, para que os moradores e visitantes estejam alertas à urgência de cuidar e preservar o local”, conclui.
Atitudes simples, que podem salvar e proteger a vida e o Planeta.