De Tarcílio de Souza Barros
A tragicomédia começa numa casa de campo em Surrey, onde vive Vivie Warren, recém-formada na Universidade de Cambridge, que reencontra sua mãe, a quem pouco conheceu. Sra. Warren enriquecera administrando uma rede internacional de bordéis, ao lado de seu sócio, Sir George Crofts, mas Vivie não sabe nada dessa sociedade. Este ‘plot’, através da brilhante atuação, envolve o espectador.
Em texto de envergadura de Bernard Shaw (1856-1950) um dos mais importantes dramaturgos da língua inglesa, autor de 60 peças, entre elas “César e Cleópatra”, “Pigmalião” e “A Milionária”. Shaw ao lado de sua carreira, encerrada aos 94 anos, foi jornalista, romancista e crítico de música e teatro. O irlandês foi premiado com o Nobel da Literatura (1925), por “Santa Joana”. Recebeu o Prêmio por instâncias de sua mulher, mas destinou toda a quantia recebida para a tradução e a difusão das obras de Henrik Ibsen, por reconhecer a genialidade do autor escandinavo.
Shaw, com ironia, mordacidade e sarcasmo situa em cena seus personagens com uma percepção inimaginável. No momento que Shaw analisa a relação de uma mulher da classe inferior com um aristocrata numa sociedade sórdida de exploração sexual zomba das instituições éticas e morais.
Os personagens de Shaw são canalhas, ávidos por dinheiro. Frank Gardner (Caetano O’Maihian), averso ao trabalho, tenta conquistar e casar com Vivie Warren (Karen Coelho) para herdar a herança de sua mãe; o aristocrata Crofts (Sergio Mastropasqua), que enriquecera nos negócios de bordéis cinicamente diz à jovem Vivie que case com ele, pois a enriquecerá; Reverendo Gardner que se enfada de ter de preparar sermões semanalmente, aliás pai de Vivie, e temos o obeso Praed (Mario Borges), que conhece à palmo a velhacaria da família Warren.
A peça conta com segura direção de Marco Antonio Pâmio dirigindo um elenco do melhor naipe do atual teatro brasileiro, onde despontam a premiada atriz Clara Carvalho no papel da Sra. Warren. Uma mãe não presente na criação afetiva de sua filha. Passou uma vida sem relacionar-se com ela. Exaltada diz à jovem: “Paguei seus estudos nas melhores universidades inglesas com meu dinheiro, agora na minha idade avançada você se recusa a cuidar de sua mãe?”. Vivie diz: “Não me deste o que é mais precioso na vida, que é o afeto”.
Warren, no final da existência, sem a proteção da filha só tem um propósito: adquirir cada vez mais dinheiro em seus sórdidos negócios. O final da peça não tem um ‘Happy End’, mas um gosto amargo de vidas frustradas pela ganância do vil metal. As peças de Shaw são “Plays Unplesant” (peças desagradáveis). A sátira do dramaturgo irlandês à sociedade inglesa é cortante como o fio da navalha na frágil pele humana.
Para sustentação de uma encenação de alto nível o diretor convidou o conhecido figurinista Fabio Namatame, na incidência de luz Caetano Vilela e em elaborado cenário Duda Arruk.
Serviço:
- A Profissão da Sra. Warren
- Texto: Bernard Shaw
- Idealização: Rosalie Rahal Haddad
- Tradução: Clara Carvalho
- Direção: Marco Antonio Pâmio
- Onde: Teatro Aliança Francesa – Rua General Jardim, 182, Vila Buarque – 226 lugares
- Quanto: R$ 50,00 (inteira) R$ 25,00 (meia) – sáb. e dom. R$ (30,00 int;) R$ 15,00 (meia) – quinta, sexta e segunda- feiras.
- Classificação: 12 anos – Duração: 100 min. – Gênero: Comédia Dramática
- Prêmios: Aplauso Brasil – votação popular (melhor atriz para Clara Carvalho e melhor figurino para Fábio Nmatame) Indicações: Aplauso Brasil (melhor iluminação para Caetano Vilela) e APCA (Melhor Atriz para Clara Carvalho)
- Avaliação: Excelente
- Até: 30 de setembro