O espetáculo “As Aves da Noite” – drama teatral escrito por Hilda Hilst há 55 anos, vencedor do Prêmio APCA de Melhor Espetáculo Virtual, em 2022 – estreia oficialmente no dia 24 de maio, sexta-feira, no Teatro Cacilda Becker, às 21h.
A encenação, que se passa em Auschwitz, tem direção de Hugo Coelho e vão até o dia 2 de junho, sempre às sextas e aos sábados, às 21h, e aos domingos, às 19h.
Na sequência, a peça segue para o Teatro Arthur Azevedo (6 a 16/06) e Teatro Paulo Eiró (20 a 30/06), sempre com ingressos gratuitos. Este projeto foi contemplado pela 17ª Edição do Prêmio Zé Renato, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
O enredo de “As Aves da Noite” parte da história real do padre franciscano Maximilian Kolbe que, em um campo de concentração nazista de Auschwitz, apresentou-se voluntariamente para ocupar o lugar de um judeu sorteado para morrer no chamado “porão da fome” em represália à fuga de um prisioneiro. Segundo o diretor Hugo Coelho, “esta é uma versão contemporânea do texto de Hilda. Não é uma reconstituição de Auschwitz, partimos de Auschwitz. O espetáculo é um grito contra a barbárie, contra o fascismo que usa a violência como instrumento de ação política”.
No porão da fome, a autora coloca em conflito os prisioneiros condenados a morrer na cela: o Padre, o Carcereiro, o Poeta, o Estudante e o Joalheiro, que são visitados pelo Oficial da SS, pela Mulher que limpa os fornos e por Hans, o ajudante da SS. Na montagem, eles aparecem isolados, confinados em gaiolas como um signo, uma alusão à prisão onde a história se passa. “A primeira coisa que os governos totalitários e ditatoriais fazem ao prender alguém é destituí-lo de sua dignidade e submetê-lo ao sofrimento extremado, e isso os nazistas fizeram com requintes inimagináveis de crueldade”, comenta o diretor. Segundo ele, a proposta de concepção de Hilda Hilst é muito clara, colocando as personagens em estado de reflexão sobre suas próprias condições no confinamento. A leitura que a autora faz dos aspectos éticos e humanos passam por questionamentos sobre Deus, sobre o mal e sobre a crueldade.
Nos diálogos estão o embate entre a vida e o que lhes resta, os devaneios entre o desespero e o delírio. O Poeta declama como se morto estivesse, o Estudante sonha com outro tempo, o Joalheiro ainda lembra-se da magnitude das pedras, enquanto a Mulher é humilhada em sua condição inferior. O Carcereiro, mesmo sendo um condenado, ironiza a condição dos demais e os trata com escárnio; o SS os chama de porcos e os agride e menospreza, enquanto o estado de debilidade emerge da vida e da já não existência desses humanos subjugados.
A montagem de “As Aves da Noite” busca elucidar a humanidade e densidade contida no texto, mergulhando nas possibilidades inesgotáveis do drama para emergir na poética da tragédia.
Sobre o texto, Hilda Hilst falou: “Com ‘As aves da noite’, pretendi ouvir o que foi dito na cela da fome, em Auschwitz. Foi muito difícil. Se os meus personagens parecerem demasiadamente poéticos é porque acredito que só em situações extremas é que a poesia pode eclodir viva, em verdade. Só em situações extremas é que interrogamos esse grande obscuro que é Deus, com voracidade, desespero e poesia”.
Hugo Coelho afirma que o propósito do espetáculo é trazer à cena o discurso poderoso e contundente de Hilda Hilst. “As Aves da Noite nos faz encarar toda a barbárie do poder, do domínio, do autoritarismo, das torturas nos porões das ditaduras. Auschwitz é uma ferida aberta na humanidade para a qual é difícil encontrar palavras que a qualifique. As Aves da Noite mostra o reverso, o outro rosto da humanidade, perverso, doente e profundamente violento. Não podemos permitir que a violência e a barbárie continuem sendo normatizadas ao longo da história. Por isso essa obra, de extrema qualidade literária, é tão importante para o momento em que vivemos”, finaliza o encenador.
“As Aves da Noite”, idealizado pelo produtor Fábio Hilst, teve sua primeira temporada apresentada virtualmente, devido à pandemia da covid-19. Foi gravado em vídeo, 80 anos após a morte de Maximilian Kolbe, exatamente no momento em que o mundo vivia uma experiência de confinamento. Kolbe morreu em Auschwitz, em 1941, e foi canonizado em 1982, pelo Papa João Paulo II. São Maximiliano é considerado padroeiro dos jornalistas e radialistas e protetor da liberdade de expressão.
Ficha técnica
Texto: Hilda Hilst (1968). Direção: Hugo Coelho. Elenco: Marco Antônio Pâmio (Pe. Maximilian), Marat Descartes (Carcereiro), Regina Maria Remencius (Mulher), Walter Breda (Joalheiro), Rafael Losso (Estudante), Fernando Vítor (Poeta), Marcos Suchara (SS), Wesley Guindani (Hans) e Heloisa Rocha. Direção de produção: Fábio Hilst. Assistência de direção e de produção: Fernanda Lorenzoni. Cenografia: Hugo Coelho. Figurino e objetos de cena: Rosângela Ribeiro. Desenho de luz: Fran Barros. Música original e desenho de som: Ricardo Severo. Cenotecnia: Wagner José de Almeida. Serralheria: José da Hora. Pintura de arte: Alessandra Siqueira. Assistência de cenotecnia: Matheus Tomé. Confecção de figurino: Vilma Hirata e Natalia Hirata. Fotos/divulgação: Priscila Prade e Heliosa Bortz. Design gráfico: Letícia Andrade. Gerenciamento de mídias sociais: Felipe Pirillo. Assessoria de imprensa: Eliane Verbena. Realização: Três no Tapa Produções Artísticas. Apoio: Prêmio Zé Renato – 17ª Edição, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
Serviço
As Aves da Noite
Duração: 75 min
Gênero: Drama
Classificação: 16 anos
Ingressos: Gratuitos | Bilheterias dos teatros: 1h antes das sessões ou antecipadamente no Sympla
Teatro Cacilda Becker
De 24 de maio a 2 de junho – Sextas e sábados, às 21h, e Domingos, às 19h
Rua Tito, 295 – Lapa. São Paulo/SP
Tel.: (11) 3864-4513. Capacidade: 198 lugares
26/05 (domingo) – Intérprete de Libras, audiodescrição e bate-papo com o público
Teatro Arthur Azevedo
De 6 a 9 de junho – Quinta a sábado, às 21h, e Domingo, às 19h
De 14 a 16 de junho – Sexta e sábado, às 21h, e Domingo, às 19h
Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca. São Paulo/SP
Tel.: (11) 2604-5558. Capacidade: 349 lugares
09/06 (domingo) – Intérprete de Libras, audiodescrição e bate-papo com o público
Teatro Paulo Eiró
De 20 a 23 de junho – Quinta a sábado, às 21h, e Domingo, às 19h
De 28 a 30 de junho – Sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h
Avenida Adolfo Pinheiro, 765 – Santo Amaro. São Paulo/SP
Tel.: (11) 5546-0449. Capacidade: 467 lugares
23/06 (domingo) – Intérprete de Libras, audiodescrição e bate-papo com o público