“Calder + Miró” estreia no Instituto Tomie Ohtake

Les coquillages [As conchas | The Seashells], 1969, Litografia sobre papel [Lithography on paper] 77 x 112,5 cm. Coleção [Collection] Karin e [and] Roberto Irineu Marinho, Rio de Janeiro, RJ. © Successió Miró/ AUTVIS, Brasil, 2024/Foto: Jaime Acioli

A exposição “Calder + Miró” abre para convidados nesta quinta-feira, 20, às 19h,  trazendo mais de 150 obras que ocuparão dois andares do Instituto Tomie Ohtake até 15 de setembro.

Realizada pelo Ministério da Cultura, Bradesco e Instituto Tomie Ohtake, a exposição “Calder + Miró” evidencia a ligação entre os trabalhos do escultor norte-americano Alexander Calder (1898-1976) e do espanhol Joan Miró (1893-1983), assim como os desdobramentos dessa amizade na cena artística brasileira. 

A presente exposição, que já esteve em cartaz no Instituto Casa Roberto Marinho, no Rio de Janeiro, em 2022, chega a São Paulo com novidades. Com curadoria de Max Perlingeiro, acompanhado pelas pesquisas de Paulo Venâncio Filho, Roberta Saraiva e Valéria Lamego, a mostra traz  cerca de 150 peças – entre pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, móbiles, stabiles, maquetes, edições, fotografias e joias. Ao conjunto originalmente exibido na exposição carioca, soma-se uma obra monumental de Calder, além de trabalhos de Tomie Ohtake entre a seleção de artistas nacionais. 

Alexander Calder, Black Widow [Viúva Negra], 1948, Folha de metal, arame e tinta [Sheet metal, wire and paint] 350 x 200 cm. Coleção [Collection] Instituto de Arquitetos do Brasil – departamento de São Paulo. © 2024 Calder Foundation, New York / Artists Rights Society (ARS), New York / AUTVIS, Brasil/Foto: Rafael Schimidt

Ocupando quase todos os espaços expositivos do Instituto Tomie Ohtake, a mostra contempla a amizade entre um dos principais escultores modernos e um dos mais famosos pintores surrealistas. De origens distintas – Calder era norte-americano e Miró espanhol – os dois desenvolveram uma notável amizade iniciada em 1928, quando ambos viviam em Paris. A relação permaneceu profunda até a morte do escultor, em 1976. “Historicamente, a ligação entre os dois artistas foi objeto de estudo de pesquisadores, com resultados surpreendentes, embora romanceada na maioria das vezes, e, ao longo de décadas, realizaram-se inúmeras mostras e publicações. É o que chamo de ‘a estética de uma amizade’ “, observa Perlingeiro.

De maneira livre e espontânea, Miró combinava formas orgânicas, cores vibrantes e símbolos enigmáticos, criando uma atmosfera única e intrigante. Esses elementos muito presentes em suas obras, também aparecem no trabalho de Calder, estabelecendo uma relação íntima entre ambas as produções e, por consequência, uma das grandes contribuições para a abstração do século 20. Articulados em pontos de equilíbrio estável, os móbiles de Calder são objetos que fazem um movimento sutil provocado pela passagem de ar. Já os stabiles são esculturas sempre apoiadas no chão. Feitas com o intuito de serem grandiosas e dinâmicas, grande parte das obras públicas do artista são stabiles espalhadas por diversos países.

No Brasil, as obras destes artistas apresentam importantes desdobramentos nos debates estéticos e produções artísticas que, a partir da década de 1940,  passaram a pautar a abstração de maneira mais enfática. A relevância das contribuições de Calder e Miró no contexto nacional se mostra, ainda, na larga presença de seus trabalhos em coleções brasileiras — para esta exposição, todas as obras apresentadas são provenientes de coleções públicas e privadas do Brasil.

À frente do núcleo de artistas brasileiros apresentado na mostra, Paulo Venancio Filho selecionou trabalhos de nomes consagrados e influenciados direta ou indiretamente pelas produções de Calder e Miró, como Abraham Palatnik; Aluísio Carvão; Antonio Bandeira; Arthur Luiz Piza; Franz Weissmann; Hélio Oiticica; Ione Saldanha; Ivan Serpa; Mary Vieira; Milton Dacosta; Mira Schendel; Oscar Niemeyer; Sérvulo Esmeraldo; Tomie Ohtake e Waldemar Cordeiro. Como afirma Venâncio Filho: “Em ambos, Calder e Miró, a abstração não obedecia a um programa pré-determinado. Estava, antes, fundada na intuição e na imaginação e, portanto, aberta ao instável, ao acaso, ao indeterminado — algumas das características que, não por acaso, vamos encontrar no construtivismo brasileiro a partir dos anos 1950 e que vão estabelecer nossa contribuição original à arte abstrata, particularmente na relação entre forma e cor”, comenta o curador.

A relação com o Brasil 

Calder visitou o Brasil pela primeira vez em 1948, quando foram realizadas exposições individuais no Rio de Janeiro (no atual Edifício Gustavo Capanema) e em São Paulo (MASP). Intermediada pelos arquitetos Henrique Mindlin (1911–1971) e Rino Levi (1901–1965), a correspondência entre Calder e Pietro Maria Bardi (1900–1999), então diretor do MASP, registrou o interesse deste museu em receber os trabalhos do artista, que naquela época já era uma referência central para a escultura moderna. Para Bardi, a mostra seria o encontro das “equações de cor, forma e equilíbrio” de Calder no país em que “o balão de São João, de cores e formas as mais curiosas, constitui um anseio abstracionista”.

No contexto de suas primeiras mostras no Brasil, a crítica nacional já considerava Calder o “arquiteto das formas móveis”, e as noções de movimento, forma e ritmo presentes em sua obra permearam o pensamento de toda uma geração de arquitetos brasileiros. O artista voltaria ao país mais duas vezes, estabelecendo amizade com artistas, críticos e arquitetos brasileiros. Mário Pedrosa (1900-1981), com quem manteve uma relação mais duradoura, foi um dos críticos que mais escreveu sobre o escultor.

Já Miró, mesmo sem nunca ter visitado o Brasil, estabeleceu vínculo com o país desde que conheceu e tornou-se amigo do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999), que chegou a Barcelona em 1947 para servir como vice-cônsul. A relação do artista espanhol com este e outros poetas ganha destaque na exposição. Uma das salas conta com vitrines e monitores com versão animada de seis obras gráficas de Miró, quatro das quais em colaboração com poetas, como o romeno Tristan Tzara (1896-1963), os franceses René Crevel (1900-1935) e Robert Desnos (1900-1945), além do autor pernambucano.

Programação Pública

Acompanhando todo o período expositivo de Calder+Miró, o Instituto Tomie Ohtake oferece uma programação pública inteiramente gratuita e destinada a públicos diversos. Instigadas pelas obras e pelos processos criativos dos artistas, as diferentes atividades incluirão ativações, oficinas práticas – como de desenho de observação em movimento –, uma programação voltada à exploração sonora das obras, bem como cursos e rodas de conversa que exploram temas como a relação entre vanguarda brasileira e a abstração – incluindo um curso de dois dias sobre arte abstrata no Brasil, o encontro entre arquitetura e artes visuais no Brasil, e a produção de artistas contemporâneos.

Ainda, o Instituto promoverá uma série de ações voltadas especialmente à educação, oferecendo uma programação de abertura para professores da rede pública, um ciclo de conversas que discutirá a intersecção entre arte e educação, além das visitas mediadas e visitas ateliês oferecidas à escolas e outras instituições. As datas da programação pública serão divulgadas nas semanas pré-abertura da exposição através do site e das redes sociais do Instituto.

Serviço

Calder + Miró

Abertura: 20 de junho, às 19h (convidados)

Temporada: em cartaz até 15 de setembro de 2024

Horários: De terça a domingo, das 11h às 19h 

Onde: Instituto Tomie Ohtake | Av. Faria Lima 201 (Entrada pela Rua Coropé, 88),Pinheiros/SP – Metrô mais próximo – Estação Faria Lima/Linha 4 – amarela

Ingressos: gratuitos

Veja também