Com exibição no dia 11 de dezembro, às 22h30, no Curta Arte1, longa dirigido por João Farkas traz à tona problemas sociopolíticos da capital paulista relacionados à acessibilidade urbana
O programa Curta Arte1, do Canal Arte1, exibirá em 11 de dezembro, sexta-feira, às 22h30, o documentário São Paulo – Uma Cidade Segregada, realizado entre os meses de julho e setembro deste ano, com direção e roteiro de João Farkas e produção da MoG Produtora. O longa traz à tona problemas sociopolíticos da capital paulista relacionados à acessibilidade urbana, com análises de especialistas em questões de ocupação do solo e planejamento urbano sobre os imbróglios gerados pelo desenvolvimento desenfreado da maior cidade da América Latina.
Com reprise no Curta Arte1 no domingo (13/12), às 17h30; terça (15/12), às 19h; quarta (16/12), às 11h30; e sexta (17/12), às 14h; o filme é um convite para refletir e discutir sobre os malefícios do desenvolvimento desenfreado e do espraiamento que caracterizam São Paulo e, também, para pensar a criação de alternativas inovadoras e efetivas para cidade evoluir de forma mais sustentável.
“Mais da metade da população mundial vive em cidades. No Brasil, cerca de 90% da população é urbana. Deixamos de ser uma sociedade rural em meados do século XX e nos tornamos urbanos rapidamente. A questão urbana é, hoje, uma das mais relevantes da humanidade, tem reflexo profundo sobre a qualidade de vida das pessoas”, afirma João Farkas.
Um estudo recente realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pelo ITDP Brasil (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento) em 20 cidades brasileiras mostrou que São Paulo é considerada a mais desigual do país no que diz respeito à acessibilidade urbana e que, aqui, o deslocamento da população é marcado pelo nível de desigualdade social. E ainda segundo dados da pesquisa Viver em São Paulo: Mobilidade Urbana, realizada pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência, mesmo na pandemia, 26% da população paulistana gasta mais de duas horas em deslocamentos.
É o caso da administradora de sistemas Adriana Ramos, uma das depoentes do documentário. Moradora do Jardim Helena, bairro do extremo leste de São Paulo, ela usa diariamente cinco transportes para chegar ao trabalho no outro lado da cidade, no Jardim São Luís, na zona sul. São cerca de três horas de deslocamento para ida e mais três para volta.
“Nós não nos juntamos na cidade aleatoriamente, nos juntamos por uma dimensão humana de fazê-la ser para todos, mas infelizmente as cidades latino-americanas caminharam para outro sentido, para um caminho perverso. A cidade tornou-se esse lugar de exclusão, gerou essa esquizofrenia, é separada entre cidade central e cidade periférica. É uma separação não só física e econômica, é muito maior, é cultural, ecológica”, afirma o arquiteto, urbanista e fundador da Escola da Cidade Ciro Pirondi, em depoimento para o filme.
O documentário lança luz nas incongruências que caracterizam São Paulo e reúne diferentes pontos de vista de especialistas em arquitetura e urbanismo, em antropologia, ativistas da causa ambiental, figuras da política e moradores das áreas extremas da cidade.
Para o arquiteto Mário Figueroa, a cidade precisa parar de se espraiar e se adensar para que possa ter uma possibilidade real de chegar até uma infraestrutura sustentável. “A ONU, através da Unesco, já define há algum tempo que uma densidade ideal é de 400 habitantes por hectare, ou até 600, para existir equilíbrio entre qualidade e desempenho dos equipamentos urbanos. Em São Paulo, temos uma média de 125 mil habitantes por hectare e isso significa que o custo de infraestrutura é muito alto”, ele explica.
A invasão e degradação de áreas de mananciais em São Paulo é outro tema que faz o filme pulsar. Manancial é fonte de abastecimento de água de milhões de paulistanos e sua degradação resulta não apenas em uma baixa qualidade da água distribuída, como também expõe a população a doenças. Além do desequilíbrio ambiental que o assolamento destas áreas traz, há também problemas como o aumento no custo de distribuição de água para população, uma vez que se torna mais difícil acessar água potável.
Protegidas por leis ambientais, mas deixadas ao léu, a maior parte das áreas ocupadas ilegalmente está nos mananciais da represa Guarapiranga, na zona sul da capital. Os espaços são desmatados, ocupados e loteados a preço acessível e de forma ilícita para população. Uma das saídas para este problema, segundo o vereador Gilberto Natalini em entrevista para o filme, é haver uma política habitacional com casas a preço condizente para o povo. “Antes da necessidade social de morar tem a necessidade social de viver. Sem água ninguém vive”, ele diz.
Para Farkas, o preço hipervalorizado dos imóveis no centro expandido é resultado das políticas restritivas de ocupação de solo. “Como consequência, as áreas mais bem servidas em infraestrutura perdem população nas últimas décadas enquanto a periferia cresce de maneira desordenada e desprovida de serviços básicos”, pontua o diretor.
Também da zona sul da cidade, o documentário aborda o Parque dos Búfalos, situado no Jardim Apurá. Construído próximo a cerca de 190 prédios em área de manancial, o Parque foi esperado ao longo de quatro anos pela população local, mas hoje traz apenas uma placa, não há estrutura ou cuidados de órgãos públicos. Desde o início da pandemia, ocorreram lá 46 queimadas controladas pela população.
“Ao defendermos uma cidade menos densa estamos defendendo um modelo de cidade melhor para os moradores de áreas centrais privilegiadas, mas ao mesmo tempo condenando a periferia a uma vida extremamente precária em termos de acesso a emprego, serviços e qualidade de vida. O planejamento urbano e as políticas de ocupação de solo são vitais e têm consequências muito profundas na vida das pessoas”, reflete João Farkas.