Por Tarcilio de Souza Barros
Mais uma vez, a convite da 47.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no dia 18 de outubro, eu e um grupo de jornalistas estávamos a postos para cobrir o filme na Cabine de Imprensa.
O filme da vez foi “Armadilha”, uma produção de peso vinda da Bulgária e Alemanha. Um filme denso, com atores capacitados em seus papéis, uma direção segura e amparada por um roteiro incomum.
“Armadilha” narra o plot de um homem idoso que vive em harmonia às margens do Rio Danúbio numa casa de madeira. E nesse ambiente bucólico perambula um imenso javali selvagem.
Ocorre que um poderoso investidor e caçador francês cobiça a ilha para nela construir um depósito para rejeitos nucleares, altamente radioativos.
Yoyo, o idoso morador da ilha, pressente que o investidor tem o objetivo vaidoso de matar o javali para conseguir um troféu, mais um dos muitos que conseguiu em caças pelo mundo.
O investidor suborna o prefeito e o chefe de polícia para permitir a caça do javali, e envia experimentados caçadores com matilha de cães, porém o ataque dos cães contra o javali fracassa, pois este é mais forte e mata todos os cães.
A função do Yoyo é recolher da ilha garrafas plásticas e todo tipo de lixo que os visitantes largam a esmo. Um dia decide recolher os detritos em grandes sacos de plástico e despejar nas portas da prefeitura, que descuida da limpeza, fazendo o prefeito e seus asseclas irem à ilha espancar Yoyo e destruir sua moradia.
Por sua vez, o investidor vaidoso por honrarias em caça retoma a decisão de matar o javali e só tem uma maneira, conseguir de Yoyo o empréstimo de seu cachorro bem treinado para encurralar o javali. Mais uma vez Yoyo rompe a cerca onde ficava o animal e este escapa da morte.
“Armadilha” é uma alegoria macabra do poder contra a humildade dos bem intencionados. Assim é que os exaltados serão humilhados, e os humildes serão exaltados. Uma obra digna do cinema vindo do leste europeu, onde ainda fazem bom cinema, em contradição ao cinema comercial.
Serviço
Armadilha (The Trap)
Rot./Dir.: Nadejda Koseva
Bulgária, Alemanha – 2023 – cor – 96 min. – Ficção.
Avaliação: Excelente.