Crítica: Brilhante encenação da peça teatral “Freud e o visitante” pelo Grupo TAPA

Foto: Ronaldo Gutierrez

 

Por Tarcilio de Souza Barros

 

A peça teatral “Freud e o visitante” é a primeira estreia do Grupo TAPA em 2023 que honra o teatro brasileiro com encenações de envergadura como a da obra-prima do autor Reginald Rose “Doze homens e uma sentença”, cuja estreia ocorreu no Teatro Imprensa, ficando anos em cartaz.

A peça está em cartaz no Teatro Aliança Francesa, na região central de São Paulo, e é inspirada na obra do dramaturgo belga Éric-Emanuell Schmitt que coloca em cena o confronto entre o ateísmo e a divindade.

Essa e outras peças do Grupo TAPA são dirigidas sob a acurada direção de Eduardo Tolentino de Araújo, considerado pela crítica e público como um dos diretores mais criativos do teatro brasileiro.

O “plot” se passa em março de 1938, quando os alemães invadem a Áustria e perseguem os judeus. Sigmund Freud, considerado o pai da psicanálise, sendo judeu corria risco de ser preso, mas a princesa austríaca Marie Bonaparte e o cônsul americano negociaram a partida de Freud para Londres. 

Na ocasião, Freud já tinha 82 anos de idade, dos quais os últimos 16 lutava com um câncer na  garganta. Além disso, Freud não queria abandonar seus pacientes e a Viena Imperial.

Quando sua jovem filha Anna foi presa pela Gestapo para interrogatório, a história toma outro rumo.

Numa friorenta noite vienense, um misterioso visitante entra no consultório de Freud e inicia uma conversação com o pai da psicanálise indagando sobre a personalidade, hábitos e costumes. Pelas palavras, Freud constata ser ele um ateu, por isso pergunta como via Deus, que responde: “Deus é uma hipótese inútil”.

O visitante vai inquirindo e diz: “Deus é bom. O homem, senhor da natureza, é mau”. Continua interagindo com Freud e o leva ao clássico divã, desvendando e trazendo à tona a ignorância do pai da psicanálise.

Freud surpreso pela sabedoria e persuasão do misterioso visitante, pergunta: “Quem és tu?”. 

A essa altura o espectador percebe que Freud está frente a Divindade Maior. Seria um avatar? Essa era a manifestação de Deus na forma humana, segundo os ensinamentos védicos do livro Bhagavad Gita.

O visitante pouco a pouco revolve a alma de Freud que permanecia na ignorância, não reconhecendo Deus como Nosso Senhor e Criador.

A cena final é magistral. Freud aponta a arma e atira contra o visitante e erra o alvo, gritando “Errei”. Nesse momento reconhece sua libertação da ignorância, reconhecendo a existência de Deus.

A produção da encenação é de autoria de Ariell Canall criando um “setting” nos moldes daqueles tempos. Luz discreta, mobiliário e vestuário de época. Um ambiente onírico e sutil envolve os personagens, dando impressão de outro mundo. Falas dos personagens proferidas com clara dicção, usadas com polidez, outras com forma rude, como a do oficial da Gestapo que vinha todo mês recolher de Freud a mesada de proteção dizendo entre dentes que admirava nos judeus por não oferecerem resistência.

Para sustentação de um texto de envergadura dramática se impunha um grupo de atores de alto nível de representação. O primoroso elenco conta com Adriano Bedin, Anna Cecília Junqueira, Brian Penido Ross e Bruno Barchesi.

“Freud e o visitante” é uma peça teatral de alta categoria, levando a crer seja elevada a uma das melhores peças de teatro do ano.

 

Serviço:

Peça teatral: Freud e o visitante

Direção: Eduardo Tolentino de Araújo

Temporada: até 4 de junho. De quinta a sábados, às 20h. Domingo, às 18h.
Preço: Quinta e sexta R$50 (Inteira) e R$25 (Meia). Sábado e domingo a R$70 (Inteira) e R$35 (Meia). Classificação: 14 anos. Duração: 90 minutos.
Link de compra de ingressos: https://bit.ly/FreudEVisitante 

Onde: Teatro Aliança Francesa | Rua General Jardim,182, Vila Buarque, São Paulo/SP

Telefone: (11) 3572-2379

Duração: 90min 

Classificação 14 anos

Avaliação: EXCELENTE

 

Agradecimentos:

Revel Blanes

Fernanda de Fátima dos Santos Neto

Assessoria de transporte

Adriana Balsanelli

 

 

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