Especial – Tarcilio de Souza Barros
Nos idos de 1980 estava em Paris e decidi visitar a Cinemateca Francesa reputada por conter um dos melhores acervos de filmes de arte do mundo.
Cheguei no Trocadero que fica à frente da Tour Eiffel, desci uma larga escadaria com degraus em mármore branco, adentrando o espaçoso Hall contíguo à sala de projeção com 180 lugares.
A programação marcava para às 10 horas a projeção do clássico O Encouraçado Potemkim do cineasta russo Sergei Eisenstein. Narra a sublevação dos marinheiros contra o regime Czarista. Obra prima do cinema pela montagem do filme por Eisenstein.
Terminada a sessão sentei na mesa do bar situado num canto da sala onde havia dois cidadães bebendo uma taça de vinho Bordeaux, Iniciamos amigável conversação, e um deles perguntou de que país eu vinha? Não sou bom de francês, mas consegui balbuciar: “Je Suis Bresilien”. ambos tiveram alegre espanto, e a conversação derivou para o inglês, e contaram esse fato histórico que raros tem conhecimento.
Corria o ano de 1948, três anos após a segunda guerra mundial, a França se recuperava da invasão alemã. Henry Langlois romancista e crítico de cinema era então o diretor da Cinemateca Francesa. Tinha planos de catalogar todo o acervo de filmes, mas precisava contar com pessoal técnico afeito e ouvindo falar que em São Paulo havia os historiadores e cinéfilos Paulo Emilio Salles Gomes e Luiz de Almeida Salles que haviam reestruturado a Cinemateca Brasileira, de imediato convidou-os a refazer o acervo da Cinemateca Francesa. Ambos seguiram para Paris e durante dois anos efetuaram um trabalho de reestruturação que permanece até os dias atuais. Narrando num bom inglês esses fatos os dois diretores demostraram profunda gratidão aos bons serviços dos brasileiros.
Foi assim que durante a Bienal de Artes Plásticas no Pavilhão do Ibirapuera estava anexo a sala da Cinemateca Brasileira que recebeu da sua congenere francesa um precioso lote de 200 filmes de arte os quais nos dias de hoje se encontram armazenados em câmaras de refrigeração com dez graus baixo zero, pois as películas daquele tempo eram de nitrato facilmente combustíveis.
Saudoso Leon Cakoff criador e idealizador da Mostra Internacional de Cinema São Paulo com sua esposa Renata de Almeida foram intensos colaboradores da Cinemateca. A nossa só perde em qualidade na América do Sul para Cinemateca Uruguaia.
Por incapacidade dos atuais governantes não houve repasse de verbas de manutenção e a Cinemateca Brasileira está paralisada, com seus empregados sem receber seus salários há meses; alguns ainda estão comparecendo ao trabalho justamente para cobrirem serviços essenciais.
A direção da Mostra Internacional de Cinema por sua curadora Renata de Almeida outorgou dentro da Mostra o Prêmio Humanidade aos empregados da Cinemateca Brasileira que valorosamente defendem o valioso acervo.
Serviço: Cinemateca Brasileira – Cinemateca Francesa