MAM prorroga mostra de realidade aumentada 

Imagem de divulgação

A exposição “Realidades e Simulacros”, em exibição no MAM São Paulo, foi prorrogada até o dia 28 de janeiro de 2024. Com curadoria de Cauê Alves e Marcus Bastos, a mostra explora o diálogo entre elementos virtuais e físicos no Parque Ibirapuera. Por meio de uma plataforma criada especialmente para a mostra pelo estúdio Museu.io, o público tem contato com obras inéditas de dez artistas que investigam as possibilidades de justaposição entre o digital, o natural e o construído.

As obras estão espalhadas por várias regiões do Parque Ibirapuera e são um compilado de produções do Coletivo Coletores, Daniel Lima, Dudu Tsuda, Eder Santos,  Fernando Velazquez, Giselle Beiguelman, Katia Maciel, Lucas Bambozzi, Regina Silveira e Paola Barreto. Cada artista recebeu convite da curadoria para criar experiências digitais, obras virtuais em realidade aumentada que integram o jogo de multiplicidades que é a exposição.
No entorno do MAM, no Jardim de Esculturas, um disco voador paira sobre os visitantes. Trata-se de “Rasante” (2023), obra de Regina Silveira. A artista dialoga com o imaginário da ficção científica, muito presente em filmes e histórias em quadrinhos, e cria um disco voador que se coloca em relação à arquitetura de Oscar Niemeyer, no Parque Ibirapuera. “A sobreposição entre a realidade e a ficção ecoa a combinação entre o radioteatro e a notícia jornalística. Em 1938, uma transmissão de rádio do diretor de cinema norte-americano Orson Welles causou pânico ao dramatizar A Guerra dos Mundos, de Herbert George Wells. Entretanto, no século XXI o trabalho de Regina Silveira tende a gerar mais fascínio do que medo”, comentam os curadores.
Sombras pouco nítidas sugerem um percurso por uma floresta de sons plantada no entorno da Praça da Paz.  Em “RevoAR :: a Vida é uma Utopia” (2023), Dudu Tsuda convida o visitante a utilizar fones de ouvido para adentrar uma paisagem sonora que mistura sons da Mata Atlântica originalmente existente na região do Ibirapuera com sons de animais da região, de espíritos da floresta e de entidades fantásticas criadas a partir das cosmovisões dos povos originários brasileiros.
Alinhadas entre o MAM São Paulo, a Oca e o Pavilhão da Bienal de São Paulo, uma escultura digital do Coletivo Coletores reúne corpos que representam três povos: latinos, africanos e resistentes de outras partes do globo. “Monumento à Resistência dos Povos” (2023) apresenta figuras brancas como o mármore em posição de defesa e aborda a ideia de contra monumentos ao problematizar questões sobre a cidade, a memória e a violência cotidiana sofrida pela população.
Em “Rádio Detín” (2023), Paola Barreto leva ao entorno da Oca imagens de um manto branco que carrega sons gravados pela artista em uma viagem ao Benim. A obra é um convite para interagir com as árvores do Ibirapuera pelas lentes de uma experiência visual e sonora que oscila entre o documental e o poético. O percurso permite refletir sobre um espectro amplo de sentidos da ancestralidade. A natureza e as culturas que antecederam o colonialismo são entendidas pela artista como vetores que permitem pensar um tempo que está além da duração da vida humana.
Flutuando no Parque e refletindo seu entorno, entre o MAM e o pavilhão da Bienal de São Paulo, a enorme “Bolha” (2023), de Katia Maciel, apresenta um aspecto lúdico.  Em geral, as bolhas duram pouco. Elas estouram quando a elasticidade que surge da junção das moléculas de detergente e água se rompe com a evaporação. Mas na obra A Bolha, esse momento é alargado, o instante em que a bolha estoura parece nunca chegar. Para os curadores, “no sentido metafórico, estourar a bolha é também alargar nossos horizontes, é nos relacionarmos com realidades diversas. A artista nos faz pensar que talvez a bolha em que vivemos seja mais resistente do que imaginamos, já que o dentro e o fora da bolha, o simulacro e a realidade, permanecem”.
Lucas Bambozzi explora processos de reconhecimento de padrões por meio de “Incerteza artificial” (2023), obra realizada a partir de inteligência artificial que escaneia a região entre a Ponte Metálica, a Praça da Paz e seu entorno no Ibirapuera, nomeando o que encontra.  Mas, para os algoritmos, as coisas nem sempre parecem ser o que são. Neste processo, os equívocos geram instabilidades resultantes dos limites da capacidade que as máquinas têm de identificar seres ou coisas.
Em “Brejo das delícias” (2023), Giselle Beiguelman faz uma incursão na história do Parque Ibirapuera, a partir de uma pesquisa das espécies nativas, anteriores à sua urbanização. Com base em estudos botânicos da flora paulistana, foram identificadas cerca de 50 espécies que habitavam sua área originalmente alagadiça.  Inspiradas em ilustrações botânicas, as criaturas aqui apresentadas foram feitas com inteligência artificial, fundindo as espécies originárias em novos seres vegetais, que ganham vida por meio de recursos de realidade aumentada. Dessa forma, abordam também a diversidade das imagens técnicas que povoam nossas noções de natureza e paisagem.
Logo em frente ao Planetário do Ibirapuera, Eder Santos posiciona a pirâmide nomeada “Ouragualamalma” (2023). A pirâmide é uma ligação entre o céu e a terra, uma arquitetura que conecta ambos, é uma imagem ancestral que se refere tanto a uma realidade anterior à colonização, quanto a uma realidade decolonial.
Fernando Velázquez leva ao Lago do Ibirapuera uma criatura feita de elementos orgânicos, vegetais e minerais. Com “Górgona 01” (2023), o artista reflete sobre um modo de viver em um planeta reconfigurado por suas catástrofes. A aparição da criatura no Lago pode surpreender tanto pelo caráter quimérico quanto pelo aspecto de porvir, refletindo sobre os caminhos por onde o antropoceno pode levar a vida.
Em outro ponto do Lago, próximo ao Portão 09 do Ibirapuera, Daniel Lima apresenta uma réplica da embarcação usada por Pedro Álvares Cabral na invasão da América em 1500. Reconstruída pelo governo brasileiro para homenagear os 500 anos de descobrimento do Brasil, por erros no projeto e problemas técnicos, ela naufragou e não participou do evento oficial em Porto Seguro, no ano 2000. Com seu “Monumento à Colonização” (2023), o artista propõe, não sem ironia, um “monumento inverso” que aponta para o modo como esse tipo de celebração revela nossa mentalidade colonizada e incapaz de projetar um futuro emancipado para o país.
A jornada de visitação pode ser realizada de diferentes formas e trajetos. É possível fazer o percurso andando a pé, de bike ou com o Ibira Tour, um passeio feito em carrinhos elétricos com guias da Urbia. Mais informações no site da empresa.
Dentro do Parque, haverá, também, sinalizações físicas instaladas em locais próximos às obras para otimizar o percurso do público.
Ainda que as obras sejam digitais, a exposição foi desenvolvida para ser vista presencialmente no Parque, com o uso do celular, pelos mais de 55 mil visitantes que transitam diariamente ali.
O conjunto de obras em realidade aumentada foi instalado em diferentes pontos do Ibirapuera por meio de georreferenciamento – um processo de sistema de referência – e pode ser acessado pelo celular, através de uma plataforma criada para a exposição. A plataforma realizada para a mostra não é um site e nem um aplicativo,  é um meio que conecta o virtual ao físico. Não é necessário fazer download para acessar, pois ela está integrada ao site do museu e também pode ser acessada pelo celular direto no link mam.org.br/realidades.

Serviço
Período expositivo: até 28 de janeiro de 2024
Local: entorno do Jardim de Esculturas,  Praça da Paz e região dos Lagos do Ibirapuera | Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n.º – Entrada pelos portões 1 e 3
Entrada gratuita

Veja também