Memórias de Klagenfurt

Por Tarcilio de Souza Barros

Trabalhei cinco anos na Companhia Italiana de Turismo (CIT) fotografando interiores e exteriores de trens na Europa e ao longo desses anos de atividades, obtive 700 cromos.

Tenho vontade de expor o material fotografado aos agentes de viagem do Brasil, pois através das imagens poderão agregar na venda dos passes de trens Europail  a turistas e visitantes.

Certa vez me concederam um passe de 90 dias, que naquele tempo custava 680 dólares, com direito a visitar 17 países da Europa. Junto ao passe veio uma passagem da Alitalia.

Partimos de Guarulhos e no dia seguinte desci no aeroporto Fiumicino, em Roma. Foi então que fiz a primeira viagem de trem de  Roma até Viena em uma época de verão.

Quando o trem partiu, pude ver pitorescas paisagens do interior; numa estação li uma placa “Klagenfurt”, achando nome interessante, desci na estaçãozinha, atravessei o hall e saí pela porta da frente.

Comecei a andar com mochila nas costas e minha máquina Canon FT lente .2 em uma tarde ensolarada de verão. 

A estação de trem ficava no alto de uma suave colina, e comecei a caminhar para conhecer como era a cidade.

Após uma centena de passos, me deparei com um enorme hotel com comportas e janelas abertas. Sem sinal de invasão ou destruição por parte de homeless, típicos na América do Sul. Nesse hotel suntuoso outrora hospedou a corte do Império Austríaco e da realeza europeia. O local tinha um esfumado no estilo arquitetônico dos anos 1900 ainda bem conservado com a placa “Hotel Klagenfurt”.

Disse adeus a um decadente fruto do Império Austríaco e segui ladeira abaixo, chegando a uma parte da cidade que continham caves de pedra onde pessoas idosas faziam sauna com objetivo de sararem suas artrites e artroses.

Entrei num saguão onde haviam pendurados cabides com roupa e utensílios pessoais, usufruindo do bem curativo.

Fiz o mesmo. Pendurei minhas coisas e também o money belt que continha meu passaporte e os dólares que levava comigo – sem o menor temor de ser furtado. Entrei na sauna onde todos estavam nus e após uma deliciosa sauna, me enxuguei, coloquei as roupas e saí para fora, com sol resplandecente.

Continue a andar pelas ruas, sempre ouvindo melodias das valsas, ora Danúbio Azul, ora Contos dos Bosques de Viena.

Ao dobrar uma esquina, vi uma encantadora cena de uma praça, com um Coreto tendo o maestro regendo um grupo de músicos executando valsas para centenas de famílias sentados em mesa com toalhas brancas de linho, tomando ao uma grande xícara de chá acompanhada de robusta fatia de torta cremosa.

Escolhi uma mesa, sentei, ouvindo as músicas executadas, pedindo o mesmo que eles pediram.

Finda a degustação, levantei comecei andar e cheguei a um grande lago, que por ser verão, estava abarrotado de pessoas estendidas na grama e de outras que nadavam no lago.

No meio do lago havia um castelo medieval que achei interessante visitar.

Deparei com um barqueiro perguntando quanto cobrava pra me levar ao castelo, e o bom homem fez um preço justo. 

E lá fomos, chegando quase a noite num píer ao lado do castelo. Paguei o barqueiro, que se despediu acenando adeus.

Ali fiquei solitário, olhando partir meu condutor e, virando as costas, vi o imenso castelo à frente.

Me encaminhei para o gigantesco portão de entrada para ver se encontrava alguém para me hospedar, mas estava hermeticamente fechado.

Comecei andar ao redor do castelo procurando um lugar para colocar meu sleeping bag e deitar, pois estava frio e a noite era escura.

Ouvi passos, chegando alguém bem onde eu estava.

Era um menino de seus 12 aninhos com uma lanterna que perguntou de onde eu era.

Uma criança meiga, que me ouviu e disse: “Esteja tranquilo, durma bem, pois está protegido”.

Levantei ao amanhecer, fechei meus pertences, andei ao pequeno embarcadouro, onde o barqueiro me esperava para retornar a Klagenfurt.

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