Segue em exibição no Museu da Língua Portuguesa a mostra “Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação”, com curadoria de Daiara Tukano e com a participação de cerca de 50 profissionais indígenas, entre cineastas, pesquisadores, influenciadores digitais e artistas visuais.
Partindo do princípio que a língua é a forma de ver o mundo e de se expressar, a exposição busca mostrar outros pontos de vista sobre os territórios materiais e imateriais, histórias, memórias e identidades desses povos, trazendo à tona suas trajetórias de luta e resistência, assim como os cantos e encantos de suas culturas milenares.
Ela propõe uma imersão em uma floresta cujas árvores representam dezenas de famílias linguísticas às quais pertencem as línguas faladas hoje pelos povos indígenas no Brasil – cada uma delas veicula formas diversas de expressar e compreender a existência humana.
A exposição tem uma lógica circular, não importando onde é o começo ou o fim. Atravessando todo o espaço, o visitante encontrará um rio de palavras grafadas em diversas línguas indígenas, criando um fluxo que conectará as salas em um ciclo contínuo. Num dos possíveis pontos de partida, o visitante se depara com uma floresta de línguas indígenas representando a grande diversidade existente hoje no Brasil. Nessa floresta, o público poderá conhecer a sonoridade de várias delas.
A sala ao lado, “Língua é Memória”, traz à tona históricos de contato, violência e conflito decorrentes da invasão dos territórios indígenas desde o século 16 até a contemporaneidade, problematizando o processo colonial que se autodeclara “civilizatório”. Neste ambiente, outras histórias serão contadas por meio de objetos arqueológicos, obras de artistas indígenas, registros documentais, mapas e recursos audiovisuais e multimídia. As transformações das línguas indígenas são tratadas em conteúdos que exploram a resiliência, a riqueza e a multiplicidade das formas de expressão dos povos indígenas.
O ambiente apresenta também outras formas de comunicação entre os povos indígenas, como o monumental trocano – um tambor feito a partir de uma tora única e cedido pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Este instrumento pertence aos povos do Alto Rio Negro, e na exposição será acompanhado por outros objetos cerimoniais originários da mesma região, onde nasceu o pai da curadora. Devido às proibições de práticas rituais e à violência decorrentes da presença missionária salesiana no Alto Rio Negro, as línguas e culturas desses povos foram afetadas enormemente.
Em um jogo de contrapontos, esta sala exibe também uma palmatória utilizada em escolas religiosas para castigar crianças indígenas que insistissem em falar suas línguas em vez do português. A peça é feita de Pau-Brasil, árvore considerada símbolo nacional, e que dá nome ao País.
Na sala “Palavra tem poder”, o público conhecerá a pluralidade das ações e criações indígenas contemporâneas a partir de seu protagonismo em diferentes espaços da sociedade, a exemplo de sua atuação no ensino, na pesquisa e nas linguagens artísticas. Os conteúdos estão distribuídos em nichos temáticos, entre eles destacamos os filmes do “Ninho do Japó”, sala de projeção com exibição de produções de autoria indígena.
Ao acompanhar o percurso do rio, os visitantes alcançam um quarto ambiente, noturno, uma atmosfera onírica introspectiva que permite o contato com a força presente nos cantos de mestres e mestras das belas palavras. O rio que percorria o chão da exposição, agora sobe a parede como uma grande cobra até se transformar em nuvens de palavras – preparando a chuva que voltará a correr sobre o próprio rio, dando continuidade ao ciclo.
Serviço
Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação
Quando: De 12 de outubro de 2022 a 23 de abril de 2023
Onde: Museu da Língua Portuguesa | Praça da Luz s/n – Luz – São Paulo
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); grátis para crianças até 7 anos; grátis aos sábados | Compre aqui