Mostra Sesc de Cinema: Uma vida comum

Por Tarcilio de Souza Barros

Foto: Reprodução

Dada excepcionalidade do filme “Still Life” (Uma vida comum), revi pela segunda vez a película que conta a história de John May (Eddie Marsan), funcionário do Departamento de Kennington cuja missão é encontrar descendentes de pessoas falecidas para reabilitação histórica de duas vidas passadas.

Esse plot, de autoria do cineasta Uberto Pasolini – provavelmente parente de Pier Paolo Pasolini, o controverso diretor italiano assassinado em 1975 numa noite em Óstia, por um bando de jovens delinquentes – fazem desse filme um dos mais primorosos da história do cinema por conta da montagem, cenário, direção dos atores, música discreta, cor natural.

Chamamos atenção dos cinéfilos para os 20 minutos finais do filme.

A história se passa em Edimburgo e John May, o inventariante dos falecidos, é um homem simples, sempre de preto, 22 anos de trabalho, que vive só.

Ele encontra no andamento do seu trabalho a linda jovem Kelly, filha de Billy Joe, um morto, e nasce aí um amor.

Kelly convida John May para um encontro numa sexta-feira em uma cafeteria para tomarem uma taça de chocolate quente.

Na véspera John vai a uma loja e compra duas canecas.

Sai da loja e, ao atravessar a rua, um ônibus o atinge.

Pasolini faz um close da face de John no chão, com olhos entreabertos, e filete de sangue do ouvido e nariz.

Na cena seguinte, o velório no átrio da capela, com o sacerdote encomendado sua alma.

A cena é logo transferida para o carro funerário, se encaminhando para a vala comum do Campo Santo.

Sempre só, John May é sepultado.

Do outro lado a jovem Kelly está enterrando os restos mortais de seu pai, tendo ao lado inúmeros amigos do falecido.

Passa na aleia do caminho o carro levando seu amado John May a campa, Kelly por instinto olha o carro passando, mal sabendo que ali estava o corpo do amado.

Grand finale.

Após John ser enterrado, começam a descer do alto espíritos agora encarnados, rendendo tributo de amor a quem lhes dera amor no passado.

“Uma vida comum” é um grande filme que honra a história do cinema.

Serviço

Filme: Still Life (A Vida Continua)

Rot. Dir.: Uberto Pasolini

Origem: Itália/Escócia, Reino Unido – 2017 – 104 min. – Cor – Ficção

Avaliação: excelente

Premiado nos Festivais de Veneza, Reykjavik e FIPRESSCI

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