A peça “Otelo, o Outro” reestreia no dia 2 de novembro no Teatro Cacilda Becker. A montagem é encenada por Miguel Rocha e com dramaturgia de Israel Neto, Joaci Pereira Furtado e Kenan Bernardes e é uma releitura do clássico Otelo, o Mouro de Veneza, de William Shakespeare.
A peça segue em cartaz até o dia 17 de novembro, sempre às quintas e sextas-feiras, às 21 horas – não haverá sessão no dia 9/11 –, incluindo quatro sessões vespertinas nos dias 9, 10, 16 e 17, às 15 horas.
Partindo do protagonista da tragédia shakespeareana, a peça é uma reflexão poética sobre a identidade do sujeito negro em diáspora. “Otelo, o Outro” é uma viagem interna, um mergulho em si mesmo em que o personagem vai se estranhando. Delírio, sonho ou pesadelo, essa viagem ou esse mergulho faz a personagem de Shakespeare encarar outros dois “Otelos” que o habitam e que o guiam num caminho tão intrincado quanto doloroso, que passa necessariamente por Desdêmona, mas percorre outras sendas, explorando ambiguidades e aporias da memória e da identidade afrodiaspóricas, marcadas pelo deslocamento social e cultural.
Nessa releitura, Otelo encontra seus outros “eus”, cujas falas foram extraídas de histórias reais de homens pretos brasileiros contemporâneos ou dos discursos do racismo difuso, às vezes mais, às vezes menos sutil, mas de qualquer forma típica de nossa sociedade. Assim, sem filtros e sem superego, um alter ego de Otelo diz verdades incômodas, eventualmente cínicas, quase sempre terríveis, dramatizando a perversidade da adesão inconsciente do homem negro ao jogo que o inventa como “negro”. Menos contundente, o outro alter ego é ponderado: ele chama à razão e sugere uma resiliência tática, uma estratégia de sobrevivência diante de algo mais forte, talvez insuperável, perpassada pela solidão. “Eles são projeções da sua própria mente para refletir sobre as ações e atitudes, sobre seu espaço no mundo”, afirma Miguel Rocha. A estética da encenação passa pela composição de imagens, das ações e movimentos do corpo no espaço buscando ampliar o discurso pela dramaturgia da cena, traços recorrentes nos trabalhos assinados pelo encenador.
“O enredo traça uma ponte entre o drama da personagem original com a experiência de negros e negras herdeiros de uma África desbotada no tecido fino da memória, que percorrem um longo caminho interno na busca por se lembrar daquilo que a história e a cultura insistem em apagar, numa busca por ‘tornarem-se negros’”, comenta o ator e idealizador do projeto, Kenan Bernardes. Para tanto, a dramaturgia explora os conflitos psicossociais e propõe reflexões acerca da constituição afrodiaspórica contemporânea.
Nessa montagem – orientada sobretudo pelo pensamento de Frantz Fanon –, Otelo se expõe à ruptura com o discurso que o inventa exatamente como “homem negro”, ao mesmo tempo que ele recusa qualquer forma de tutela de sua consciência, inclusive aquela que lhe nega até o direito de odiar. Sem dar respostas, já que esse espetáculo procura mais provocar do que solucionar, Otelo, o Outro explora as contradições da própria consciência negra numa sociedade como a brasileira contemporânea. Sociedade hegemonizada pelo capitalismo neoliberal e pela indústria cultural pós-moderna, que sempre aspira ao “novo” sem enfrentar e superar o legado do escravismo colonial e de seu autoritarismo estruturante.
Ficha técnica
Concepção e produção geral: Kenan Bernardes
Dramaturgia: Israel Neto, Joaci Pereira Furtado e Kenan Bernardes
Encenação: Miguel Rocha
Elenco: Carlos de Niggro, Jefferson Matias e Kenan Bernardes
Designer de som e difusão sonora: João Paulo Nascimento
Consultoria idiomática: Hamza Abdul Karim
Direção e pesquisa de movimento e atuação: Erika Moura
Desenho de luz: Wagner Pinto
Produção de luz: Carina Tavares
Assistência de iluminação: Gabriel Greghi e Gabriela Cezário
Operação de luz: André Rodrigues
Cenografia: Julio Dojcsar
Cenotécnica: Helen Lucinda
Serralheiro: Fernado Lemos “Zito”
Figurinista: Silvana Marcondes
Adereços: Bru Fiamini
Costura: Atelier Judite de Lima
Voz off feminina: Ina
Orientação teórica da pesquisa: Deivison Nkosi
Fotografia: Julieta Bacchin
Arte gráfica: Murilo Thaveira
Vídeo: João Maria
Registro para as redes sociais: Talitha Senna
Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação
Produção executiva e contabilidade: Jussara Mendes.
Serviço
Otelo, o Outro
Temporada: 2 a 17 de novembro de 2023
Onde: Teatro Cacilda Becker | Rua Tito, 295 – Lapa. São Paulo/SP
Horários: quintas e sextas, às 21h
Não haverá sessão no dia 9, quinta, às 21h
Sessões vespertinas: 9, 10, 16 e 17, às 15h.
Ingressos Gratuitos
Classificação: 16 anos