A partir do dia 29 de julho, a Pinacoteca de São Paulo apresenta a maior mostra panorâmica já realizada sobre a artista argentina Marta Minujín. A exposição “Marta Minujín: Ao Vivo” traz trabalhos icônicos da artista, com obras políticas e interativas que prometem surpreender o público
A exposição tem curadoria de Ana Maria Maia e ocupa as sete salas do primeiro andar da Pinacoteca, tendo como fio condutor a contribuição da artista para uma vanguarda que pensa a América Latina em termos micro e macropolíticos.
A mostra articula mais de cem obras de 1963 até o presente, reapresentando o icônico El batacazo, criado no contexto do Instituto Torcuato Di Tella em 1965, além de trabalhos como Galeria Blanda [Galeria Mole] (1973) e La caída de los mitos universales [A queda dos mitos universais] (1978). Um inflável recebe o público nos primeiros dias da exposição no estacionamento da Pina Luz. A Escultura de los deseos [Escultura dos desejos] (2022) tem 17 metros de altura e foi um grande sucesso no Lollapalooza Argentino.
Marta Minujín se transformou em um grande fenômeno ainda nos primeiros anos de carreira, na década de 1960. Reconhecida internacionalmente como a pioneira do happening e da arte participativa, Minujín produz incansavelmente até os dias de hoje, transitando entre diversas linguagens, escalas, circuitos artísticos e sociais. Com seus óculos espelhados e a personalidade extravagante, a artista-personagem figura em capítulos importantes da história da arte, passando pelo novo realismo, pela pop art, pelos conceitualismos, pela arte pública e multimeios.
“Marta Minujín: Ao Vivo” passa por momentos cruciais da carreira da artista, ainda que não siga uma linha cronológica. A exposição começa pelo conjunto de colchões, que inaugura seu statement criativo nos anos 1960, no âmbito do novo realismo. Retorcidos e pintados em tons vibrantes, o trabalho com colchões é resultado do interesse de Minujín de aproximar a arte das dinâmicas da vida, se apropriando de materiais industriais. O público pode percorrer a galeria de tramas e colhões multicoloridos, com documentação de La chambre d´amour [O quarto do amor] (1963) e obras como Eróticos en technicolor [Eróticos em technicolor] (1964) ou Freaking on fluo [Pirando no fluorescente] (2010), além de visitar a Galeria Blanda [Galeria Mole] – instalação de 1973, feita com 200 colchões, recriada para a mostra da Pinacoteca. Formando um “cubo branco”, a antigaleria convida as pessoas visitantes a descansar ou brincar.
Na terceira sala da exposição, a instalação histórica da artista, El Batacazo, foi também recriada especialmente para a Pinacoteca, 58 anos depois da apresentação no Instituto Di Tella de Buenos Aires, em 1965. Em consonância com um espírito de tempo de uma geração imersa no fenômeno de uma midiatização crescente, a partir das leituras de Marshall McLuhan, a artista mobilizaria estratégias participativas para se posicionar perante a indústria cultural. À época, quatro tipos de ícones midiáticos conduziam o visitante pela instalação, que passava por jogadores de rúgbi, subia escadas para encontrar playboys e cosmonautas, e descia um escorregador para cair no rosto da atriz italiana Virna Lisi. Na Pinacoteca, os jogadores são agora de futebol do Brasil e da Argentina.
A pesquisa sobre o fenômeno social da comunicação e seu potencial disseminador resultou em diversos trabalhos, cuja documentação se concentra na quarta sala expositiva, em obras como Simultaneidad en simultaneidad [Simultaneidade em simultaneidade] (1966) e Leyendo las noticias en el Río da Plata [Lendo notícias no rio da Prata] (1965). No contexto político da década de 1970, a proliferação de ditaduras militares pela América Latina levou a práticas artísticas voltadas para a conscientização de uma realidade sociopolítica e para um projeto de integração entre os países da região. O trabalho mais emblemático da artista nesse sentido foi Comunicando con tierra (1976), remontado para esta exposição.
A quinta sala da mostra se volta para trabalhos que usam frutas e vegetais nativos para representar recursos definidores de uma identidade nacional, como a fotoperformance El pago de la deuda externa argentina con maíz [O pagamento da dívida externa com milho] (1985) e Arte agrícola en acción [Arte agrícola em ação] (1978-1979). Outro caminho que Minujín adotou para intervir no imaginário político nacional foi a atuação no espaço público: para a Bienal Latino-Americana de São Paulo, em 1978, a artista levou a obra El obelisco acostado [O obelisco tombado], emulando a viagem do famoso monumento da praça da República, em Buenos Aires, para o pavilhão da Bienal, “transferindo o mito de um país ao outro”. Agora, o obelisco argentino, recostado e reconfigurado, ocupa a sexta sala expositiva da Pina Luz. A instalação antecipava características do que viria a ser a série La caída de los mitos universales [A caída dos mitos universais], que compreende trabalhos como El obelisco de pan Dulce [O obelisco de pão doce] (1979) e El Partenón de libros [O paternon de livros] (1983), documentados na galeria.
A mostra termina com uma das videoinstalações mais recentes da artista, Implosión! [Implosão!] (2021). A nova versão da obra promove a imersão em um cubo musical multicolorido. O projeto parte da animação de fotografias de detalhes de um colchão histórico e reflete a percepção da artista de que a contemporaneidade é como uma bateria de estímulos sensoriais. A circularidade da obra permite vislumbrar os sessenta anos de carreira de Marta Minujín, em toda a sua persistência e repertório.
Sobre a artista
Nascida em Buenos Aires, em 1943, Marta Minujín, ainda hoje em franca atividade, alcançou grande consagração na Argentina e internacionalmente. Ao longo da carreira, a artista tornou-se a embaixadora do movimento pop na Argentina, o que envolveu interpretar essas vertentes internacionais com referências portenhas. Embora tenha se identificado com o rótulo, sua produção possui um caráter multidisciplinar, combinando aspectos da arte pop com o happening e a arte conceitual. A despeito dos preconceitos de gênero, Minujín transitou entre ambientes criativos e intelectuais em grandes capitais artísticas do mundo, presente em capítulos importantes da história da arte desde a segunda metade do século XX.
Serviço
Marta Minujín: Ao Vivo
Período: 29 de julho de 2023 a 28 de janeiro de 2024
Curadoria: Ana Maria Maia
Horários: De quarta a segunda, das 10h às 18h (entrada até 17h)
Ingressos: Gratuitos aos sábados – R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada), ingresso único com acesso aos três edifícios – válido somente para o dia marcado no ingresso. Quintas-feiras com horário estendido B3 na Pina Luz, das 10h às 20h (gratuito a partir das 20h)
Onde: Pinacoteca Luz (1º andar) | Praça da Luz, 2 – Luz, São Paulo/SP