Seis filmes disponíveis em streamings que são dados como certos na briga pelo Oscar 2022

Imagem: Divulgação / Reprodução 

A mais importante premiação do cinema, o Oscar, tem premiação marcada para acontecer no dia 27 de março. Enquanto isso, os cinéfilos podem conferir alguns dos concorrentes em plataformas de streaming. 

Este ano, ao menos dois dos favoritos à premiação são adaptações de livros, “Ataque dos Cães”, adaptação da diretora Jane Campion para a novela “The Power of the Dog” (1967), de Thomas Savage (1915-2003), e “A Filha Perdida”, releitura de Maggie Gyllenhaal para o romance homônimo da escritora Elena Ferrante. Mas os seis favoritos ao Oscar dessa lista, quatro disponíveis na Netflix e dois no Amazon Prime Video, têm, em maior ou menor proporção, ligação estreita com outras formas de representação do pensamento e das emoções do homem.

Confira a lista disposta em ordem alfabética:

Apresentando os Ricardos, de Aaron Sorkin Amazon Prime Video

Lucille Ball está em crise. Um dos primeiros alvos do macarthismo, a perseguição inclemente a comunistas nos Estados Unidos, iniciada pelo senador republicano Joseph McCarthy (1908-1957), Ball, interpretada por Nicole Kidman, uma das maiores estrelas do showbiz americano dos anos 1950, começa a perder papéis importantes no cinema, e nem seu desempenho em “I Love Lucy” — a série de audiência mais vultosa da televisão nos Estados Unidos, em que dá vida a Lucy Ricardo, uma dona-de-casa como tantas outras do país — é capaz de conter os jornais, que passam a encampar uma verdadeira guerra contra a atriz, cujo término só se deu com o próprio fim do programa, em 1957. Profissional até o osso, Lucille Ball, a comediante mais celebrada da América, tiraria o episódio de letra, não fosse a vida pessoal também estar desmoronando: seu marido, o ator Desi Arnaz, de Javier Bardem, e par romântico na série, protagoniza um dos adultérios mais rumorosos de todos os tempos. Valendo-se de seu talento para inventar histórias que não são as suas, Ball atravessa seu inferno com toda a dignidade. Algum tempo depois, no mesmo 1957, assim como aconteceu com “I Love Lucy”, seu casamento com Arnaz também acabou. Sempre vanguardista, quatro anos mais tarde, em 1961, a atriz se une ao comediante Gary Morton, treze anos mais novo, com quem fica até o fim da vida. Lucille Ball morreu em 26 de abril de 1989, aos 77 anos, de complicações após uma cirurgia cardíaca.

Ataque dos Cães, de Jane Campion (Netflix)

Faz algum tempo que o faroeste, gênero cinematográfico genuinamente americano, vem se apresentando sob pontos de vista completamente inéditos. A adaptação de Jane Campion para a novela “The Power of the Dog” (1967), de Thomas Savage (1915-2003), nunca editada em português, revela, por exemplo, o componente homossexual de seu protagonista, Phil Burbank, de Benedict Cumberbatch. Seu pouco gosto para com as pessoas decorre do fato de ter perdido Bronco Henry, o amigo por quem se apaixonara, e nunca ter sido capaz de digerir essa grande tristeza. Peter Gordon, vivido por Kodi Smit-McPhee consegue identificar o problema e, a partir desse instante, o garoto enxerga em Phil o que Bronco Henry fora para esse seu contraparente a contragosto. Phil, por seu turno, também vai tendo o coração um pouco mais amolengado, se compadecendo do rapaz, querendo ensinar-lhe coisas. Inversamente ao que se tem em “O Piano” (1993), outra grande passagem do cinema em que o talento de Campion também se impõe, o envolvimento romântico entre Phil e Peter fica apenas subentendido, o que, por óbvio, se justifica em se considerando o contexto em que a subtrama toma corpo. Assim mesmo, o caso dos dois rouba as atenções, em especial por causa da forma como Rose se comporta frente à atração magnética de um pelo outro. A natureza perversa de Phil se manifesta mesmo quando a vida parece lhe dar boas razões para se emendar. Se antes o rancheiro via a presença feminina da personagem de Kirsten Dunst — a mulher com quem o irmão de Phil, George, de Jesse Plemons, se casara — à luz de uma ameaça que precisava combater, agora o perigo é ele próprio, de forma que seu interesse sincero por Peter soa como uma vingança, detalhadamente estudada, mas que receberá o contra-ataque devido. Vilão tornado anti-herói, o caráter dúbio do personagem de Cumberbatch é a cobra que ele nietzschianamente fez de questão de agasalhar em seu peito, e que agora está prestes a envenená-lo. Em 2022, “Ataque dos Cães” foi duplamente laureado pelo Globo de Ouro: ganhou os prêmios de Melhor Filme e Melhor Direção, para Campion.

A Filha Perdida, de Maggie Gyllenhaal (Netflix)

A adaptação de Maggie Gyllenhaal para o romance homônimo da escritora Elena Ferrante é um debute respeitável da atriz na direção. Publicado em 2006, “A Filha Perdida” narra as desventuras de uma mulher fragmentada, incapaz de lidar com a verdade e suas consequências, ou pelo contrário, tão acostumada a ter de encarar verdades tão contundentes que tem de aumentar a dose um pouco mais a cada dia, a fim de provar a si mesma que está viva. E foi por aí mesmo que Gyllenhaal se embrenhou, sem pejo, como Ferrante, de apontar as contradições de Leda, a protagonista vivida por Olivia Colman, vencedora do Oscar de Melhor Atriz por “A Favorita” (2018), dirigido por Yorgos Lanthimos, empenhando-se por tentar encontrar o X do problema da personagem.

Não Olhe para Cima, de Adam McKay (Netflix)

Lançado em 2021, depois de quase dois anos de isolamento compulsório devido a uma pandemia que botou muita gente louca — e matou outro tanto —, McKay joga no caldeirão de “Não Olhe para Cima “ suas impressões mais cômicas e dramáticas sobre as redes sociais como um foco perene de hostilidade e subversão de valores, o desenvolvimento tecnológico irrefreável, as reviravoltas do clima, a futilidade de pessoas que se pensam célebres, ou seja, a vida no século 21, mantendo cada assunto em sua gaveta correspondente e embaralhando-os quando lhe convém. Deliberadamente aloprado, em momento algum “Não Olhe para Cima” abre mão de manter o espectador na rédea curta, mostrando-lhe, até de modo didático, com o que importa se preocupar ou não.

No Ritmo do Coração, de Sian Heder Amazon Prime Video

Livremente adaptado do francês “A Família Bélier” (2014), dirigido por Eric Lartigau, “No Ritmo do Coração” igualmente partilha de outras produções que registraram a surdez como impedimento, em maior ou menor nível, quanto a se obter um cenário harmonioso, ou sua aparição repentina sob a forma de um desafio quase inexpugnável, e tanto pior quando se depende da audição perfeita para se ganhar a vida. “O Som do Silêncio” (2020), de Darius Marder, toca o assunto de maneira surpreendentemente madura, concisa, até científica em boa proporção, ao expor a agonia de Ruben Stone, o baterista vivido por Riz Ahmed que fica progressivamente surdo devido às descargas excessivas e constantes de ruído com que o trabalho o obriga a lidar todos os dias. Como se vê, definitivamente o argumento defendido no roteiro da própria diretora não é nenhum portento à genialidade, mas “No Ritmo do Coração” tem seus pulos do gato, e o maior deles quem dá é o elenco. Se em “A Família Bélier” quase todos os atores são ouvintes — e “O Som do Silêncio” nem pode fazer parte dessa equação, uma vez que a deficiência do protagonista é adquirida e, portanto, só se manifesta a dada altura da história —, à exceção de Luca Gelberg, no filme de Heder acontece o inverso: Jones é a única não surda numa equipe invulgar, que reúne Marlee Matlin, ganhadora do Oscar por “Filhos do Silêncio” (1986), levado à tela por Randa Haines, Troy Kotsur e Daniel Durant, que, mesmo sem usufruir do mesmo prestígio profissional de Matlin, mostram a que vieram e entregam um desempenho cujo realismo impressiona.

Tick, Tick… Boom!, de Lin-Manuel Miranda (Netflix)

A narrativa de “Tick, Tick… Boom!” vai e volta, ora retratando a vida pessoal de Jonathan Larson (1960-1996), ora se concentrando em seu processo criativo, ainda que seja impossível dissociar um do outro. Vivido por Andrew Garfield com sua competência usual, a produção de Miranda se presta a uma retrospectiva da curta trajetória de Larson, entremeando nas sequências que registram a angústia de uma vida meio besta, defendida com a ajuda de um subemprego medíocre e, em muitas situações humilhante — sobretudo quando se reconhece dotado de uma qualidade que os demais não têm —, seus momentos de catarse artística, em que consegue por para fora seus anseios e transforma a opressão da existência em canções. O embate entre Larson e seu espírito atormentado, de um artista desconhecido que ansiava por se fazer notar, por ser valorizado por seu verdadeiro ofício, como se sentisse que para ele o tempo, a exemplo do que acontece num filme de ação ruim ou num desenho animado inconsequente, menos elástico que para os outros, era regido pelo compasso de uma bomba-relógio — daí a referência lúdica de Miranda à onomatopeia do título —, é o grande mote de “Tick, Tick… Boom!”, registro dos bastidores silenciosos e torturantes da composição de um musical sobre um musical. Uma espécie de prelúdio de “Rent”, levado à cena em 1994, um dos shows de maior prestígio na Broadway ainda hoje.

Fonte: https://cutt.ly/jIUUPJx 

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