Embora ambientado há quase 90 anos, o texto do autor inglês Nicholas Wright segue atual, a história é sobre uma família disfuncional, a relação tóxica entre mãe e filha. O público vai se identificar demais porque sempre há dificuldades nesses vínculos”, aposta o diretor.
Recorte de um único, intenso e louco dia na primavera londrina de 1934, o espetáculo “Sra. Klein” ganha nova encenação do diretor Victor Garcia Peralta, que já havia montado o texto há 33 anos na Argentina.
“Outro dia reassisti ao vídeo e adorei, mas seria impossível fazer como fiz no início da carreira.
Naturalmente, meu olhar mudou e queria fazer uma montagem menos realista”, diz Victor. A trama sobre os dramas familiares da psicanalista austríaca Melanie Klein exerce fascínio e também foi encenada por aqui duas vezes — uma nos anos 1990, com Ana Lúcia Torre e outra, há 20 anos, com Nathália Timberg à frente do elenco. Aliás, foi justamente numa das sessões da versão dirigida por Eduardo Tolentino, em 2003, que Ana Beatriz Nogueira sentiu vontade, pela primeira vez, de viver a personagem-título. Este desejo a atriz realiza a partir do dia 29 de junho no Sesc 24 de Maio, em São Paulo, ao lado de Natália Lage e Kika Kalache, com produção de Eduardo Barata. “Eu me lembro que fiquei com a peça na cabeça. Pensei comigo: ‘Quando for mais velha, eu quero fazer’. É um texto muito bem-feito, que remete aos clássicos em termos de estrutura. A gente deseja fazer certos papéis mais velha, sabe? Com a idade da personagem, embora em teatro tudo seja possível. Só que é mais interessante estar mais madura como atriz” graceja Ana, que acabou levando quase quatro anos para montar o espetáculo, em função da pandemia.
Embora jure que não leva a personagem para a cama, muito menos ao divã, Ana tem pesquisado com afinco tanto a obra, como tudo relacionado à personalidade da psicanalista. “O ser humano é muito complexo. Acontece que chega uma hora em que eu abandono essas referências todas e crio do meu jeito, uma cena após a outra, sem maiores pretensões. Entendo esse espetáculo como uma oportunidade para reavaliarmos nossas relações familiares. Essa peça é mais sobre lidar com a vida do que com a morte, e isso inclui, claro, questões cotidianas e os lutos das nossas certezas e crenças” analisa a atriz.
Já para Natália Lage, que interpreta Melitta, a filha de Klein, o gatilho da peça bateu mais forte nos conflitos entre mãe e filha, que são o fio condutor do espetáculo. Neste recorte, ambas as personagens precisam encarar a morte de Hans, o filho/irmão mais novo que acaba de se suicidar. “A relação das personagens não tem nada a ver comigo e a minha mãe, mas, às vezes, esbarra em algum lugar. Como a Klein testou seu método psicanalítico nos dois filhos, a Melitta se sente violada na sua intimidade, questiona essa mistura de vida pessoal com profissional, e entra numa trilha de vingança. Então temos uma lavação de roupa suja das boas” adianta Natália.
Há ainda um terceiro vértice nessa discussão: Paula, personagem de Kika Kalache, que fica em cima do muro, ora descambando para o lado de Melitta, sua amiga, ora para o lado de Klein, de quem é discípula. “O encontro das três é forte. A minha personagem é muito observadora, tem menos embates, pois é mais contida. Paula acaba tendo um ponto de vista da história parecido com o do público” explica Kika.
Nesta sua nova encenação, Peralta enveredou-se por um caminho mais contemporâneo. “Os figurinos da Karen Brusttolin remetem aos anos 1930, mas também dialogam com a moda de hoje. Temos três mulheres e18 cadeiras em cena, é como um quebra-cabeça. Acho curioso que essas três analistas, tão experientes em ouvir o outro e tratar das questões de seus pacientes, não conseguem se ouvir e ver o óbvio da questão que estão enfrentando. Em muitos momentos, o humor delas sarcástico é maravilhoso”, observa o diretor.
Datas do espetáculo: de 29/6 a 23/7, quinta a sábado, às 20h, domingo, às 18h.
Endereço: Rua 24 de Maio, 109, Centro, São Paulo
(350 metros do metrô República) Fone: (11) 3350-6300
Mais informações à imprensa: imprensa.24demaio@sescsp.org.br
Ingressos: No site: www.sescsp.org.br/programacao/mrs-klein-2/,através do aplicativo Credencial Sesc SP e nas bilheterias das unidades Sesc SP a partir de 20/6 às 17h – R$40 (inteira), R$20 (meia) e R$12 (Credencial Sesc)