Por Tarcilio de Souza Barros
Um curioso filme da Lituânia, país que integrava a extinta União Soviética, foi exibido na 47.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. “Devagar” conta a história de Elena, uma dançarina de balé contemporâneo que conhece Dovydas, um intérprete da linguagem de sinais.
Eles se sentem atraídos e a conexão entre os dois se aprofunda, mas quando Dovydas revela para Elena que é assexual, o casal vai descobrir uma maneira de construir seus gestos de intimidade.
Com primoroso roteiro e direção de Maria Kavtaradze, estamos ante uma película que prende atenção por não atinar como será o desfecho da relação.
Os atores capacitados na arte da representação sustentam uma relação que beira a tragédia.
Elena procura com palavras e gestos amorosos a entrega total ao amante.
Dando realismo, cenas no leito nupcial sobre o exercicio erótico da nudez mostram a câmara percorrendo o corpo humano, oscilando sobre as saliências e vácuos do corpo dos amantes, fazendo lembrar as mesmas cenas da obra-prima de Alain Renais em seu filme “Hiroshima Mon Amour”.
A epiderme no cinema, diríamos nessa análise.
Numa crescente de ações, na busca da perfeição, no deleite do amor inconclusivo, os personagens se dispersam no caminho.
“Devagar” termina com melancólicas palavras: “Agora vai ser o que será que ser…”.
Serviço:
Filme: Devagar (Slow)
Origem: Lituânia/Espanha/Suécia
Rot./Dir.: Marija Kavtaradze
2023 – Cor – 106 min. – Ficção
Premiado no World Cinema Dramatic no Festival de Sundance
Avaliação: Muito Bom